• A Teia da Trama de Enemy - Desconceituando #2

    No segundo post do Desconceituando o mais novo filme de Denis Villeneuve (Os Suspeitos, 2013) é posto à prova e é desmantelado para maior entendimento e detalhamento do longa. Já considerado uma obra-prima, o filme conta a história de Jake que encontra um rapaz que é identico à ele e a partir de então sua vida toma outro curso.

  • Guardians Of The Galaxy (Guardiões da Galáxia) - Review/Crítica

    O aguardado filme de Guardiões da Galáxia finalmente estreia e você pode conferir a critíca agora. Mas leia antes que Thanos tome de você!

  • Locadora: Kill Bill (EM BREVE)

    Kill Bill é o escolhido para o primeiro post do Locadora, uma coluna que falará sobre filmes que marcaram a minha vida cinematografica e que sempre estarão presentes na minha prateleira. Um dos mais famosos filmes de Quentin Tarantino, Kill Bill é muito mais que um filme de ação desenfreiada, no post falaremos sobre a história, sua participação no universo tarantinesco, a violencia, a vingança, as referencias e tudo o que caber

  • MonologoCast #1: Meia-Noite em Paris (EM BREVE)

    No primeiro episódio do MonologoCast, Danilo Silva fala sobre Midnight in Paris (Woody Allen, 2011) e desconstrói o filme num monologo rechado de trechos do filme, incrementado com a trilha sonora do mesmo e uma analise pessoal de roteiro e direção. Ouça e comente!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

The Zero Theorem (O Teorema Zero) - Review

Por vezes, desde pequeno, minha mãe achava estranho quando eu questionava sobre minha própria existência quando eu percebia que não poderia fazer tudo que eu queria; afinal de contas, por que diabos estou aqui se eu não posso fazer o que eu quero? Ela dizia então que eu devia esperar e que as coisas viriam na hora certa. E eu espero.

The Zero Theorem (ou O Teorema Zero, no Brasil) é o mais novo filme do diretor Terry Gilliam (que você deve conhecer por Doze Macacos e Brasil) e seu esperado retorno à ficção-científica. Amado por uns e odiado por outros, o diretor tem no currículo filmes que não ficam em cima do muro e com toda certeza, esse é mais um deles. A história se apresenta numa complexidade tão nebulosa que muitas pessoas desistiram do filme só no título que, apesar de intrigante, não serve de motivo para aguentar o cinema autoral de Gilliam.
Quando bem resumida, a premissa parece simples. Qohen Leth (Christopher Waltz) é um talentoso programador da Mancom, mas vive atordoado por seu desejo de ir trabalhar em casa afim de não ter o risco de perder uma ligação muito importante. O Gerente (interpretado por Matt Damon) permite com que Qohen trabalhe em casa com uma condição: ele terá que ajudar na resolução do Teorema Zero. Porém, no meio de tudo isso, Qohen conhece Bainsley (talentosamente interpretada por Mélanie Thierry) deixando-o entre o trabalho e a novidade agora tão recorrente, o amor por Bainsley.

É de admitir-se que o cinema de Gilliam é bem característico e isso pode causar estranheza para o público que não o conhece, e o diretor não parece querer economizar. Com uma cena introdutória bem aberta à interpretações, o filme é construído em cima de críticas até que bem estabelecidas se o roteiro não desse o foco para a questão errada. Escrito pelo novato Pat Rushin, apesar de interessante, o roteiro talvez devia ter passado por mais tratamento e Gilliam devia ter se atentado à detalhes que escaparam pelas costas. Assumidamente abstrato e cheio de conceitos existenciais, é uma pena quando o percebemos que o filme quer contar uma história de amor mais do que focar nas questões existenciais de Qohen. Ao explorar o romance com Bainsley, deixamos de lado bons minutos que poderiam ter sido aproveitados para decorrer mais sobre a suposta trama principal.
Quando tratada em tela, todo o mistério por trás da trama do Teorema Zero se resume em uma coisa: o sentido da vida. Assim, podemos começar a traçar paralelos com nossa realidade e isso sim está bem divagado durante toda a extensão do longa. A sociedade em que a trama se passa (um futuro não datado no roteiro) é muito parecido com as sociedades distópicas de THX 1138, 1984 e até mesmo o próprio Doze Macacos. Além disso, é interessante notar a variedade de tons quentes postos no cenário, o que dá a sensação de urgência rapidamente e também o figurino que mescla um futuro brega junto à um saudosismo longínquo dos anos 80.

The Zero Theorem não é de todo mal. O filme é interessante sim em questões visuais e até mesmo as questões e argumentações que o roteiro propõe são válidas. Porém, mesmo assim, tudo continua ladeira abaixo quando o filme abandona de vez todas as suas questões existencialistas e foca em um romance nem tão bem justificado. Sendo assim, uma trama que parecia tão complexa e fechada, desabrocha-se em metáforas óbvias e um tom pretensioso aparece e chega a ser meio vergonhoso.
Terry Gilliam mais uma vez nos mostra que ainda sabe fazer cinema. Suas críticas estão ali, suas cores e, com o perdão da palavra, maluquices também integram a lista, porém, ele parece ter perdido a mão, o jeito e enquanto isso continuamos à espera da volta de Gilliam aos sci-fi. 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Oculus (O Espelho) - Review

Quando criança, eu tinha uma moeda que considerava especial. A moeda da sorte e alguma coisa me fazia acreditar que quando a tinha comigo, as coisas funcionavam e quando não estava com ela, o destino estava predisposto a virar-se contra minha vontade. Pois bem, perdi a moeda (ou misturei sem querer com algum troco) anos depois e isso foi o suficiente para me deixar maníaco, apesar de não contar para ninguém. Várias coisas deram errado e só acordei quando percebi que não era o destino predisposto a ir contra a minha vontade e sim eu mesmo.
Oculus (O Espelho, no Brasil) entra sorrateiramente na lista dos horrores assistíveis e que podem ser admirados nos últimos dez anos. Com uma impecável montagem, direção e atuações por ora interessantes, surpreendentes e ora admiráveis, o filme parece despretensioso em seus primeiros minutos quando nos apresenta o velho plot de um objeto amaldiçoado (o que funcionou tão bem quanto em Invocação do Mal). Mas só parece. Seu primeiro ato, apesar de que um tanto lento, não chega a ser ruim porque constrói uma ponte ótima para o segundo e terceiro ato do filme; e é aí que o filme surpreende.
As mais importantes obras do horror cinematográfico insistem em construções em cima de questões morais sobre nosso próprio consciente. Até que ponto iríamos caso estivéssemos naquela situação? O que faríamos? A mocinha gritou, você xinga ela, manda a pobre calar a boca, mas e se fosse você naquela situação? Essa é a magia dos filmes de terror/horror. Em Oculus não é diferente, por vezes durante o filme, me peguei pensando se eu voltaria a enfrentar o espelho após ter passado pelo que os irmãos Russell passaram. Porém, por outro lado, parte questiona sobre a veracidade daquela situação e isso é bem presente no longa. Por vezes, os irmãos Russell parecem distinguir (meio que no achismo) o que é real do que não é e isso deixa tudo apenas mais divertido.

O filme se destaca não apenas por estar carregado de fórmulas que já deram certo em filmes do gênero antes, mas também por seu roteiro retroativo. A trama tende durante toda extensão do filme entre a versão adulta e infantil dos irmãos Russell. Isso possibilita que o espectador mantenha interesse por duas pontas da história: a origem de todo o conflito e a resolução do mesmo. Assim, inteligentemente construído, o filme junta-se à ótima seleção de atores para os papeis e a ótima execução dos mesmos para entregar pouco menos de duas horas de uma história de mão dupla que não perde o rumo em nenhum minuto de sua extensão. Além de tudo isso, o filme ainda conta com um elemento que chama muito à atenção: o fato de não sabermos se os irmãos, ou até a família inteira, estão alucinando ou não. Talvez se os irmãos Russell não tivessem ido atrás do espelho, nada teria acontecido, mas assim voltamos àquela questão: devido ao que aconteceu na infância deles, se fosse você, não retornaria também atrás de respostas? Esse é um ponto que considerei muito importante, principalmente após ter lido a frase "Você o que quer ver" estampado abaixo ao titulo do filme. Com certeza, isso só agregou.
O único ponto negativo do filme talvez se deva à falta de autenticidade na fotografia e direção de Mike Flanagan que apesar de bem executada, não chega a tomar para si o brilho que cabia para essa parte.  Mas quando o espectador percebe isso, já está anestesiado o suficiente com o roteiro de mão cheia, as cenas assustadoras que fogem do comum visto hoje em dia e com as reviravoltas (literalmente) durante a trama. Oculus é a prova que o horror tem e sempre terá os mesmos clichês de sempre quando se trata de roteiro, não importa se o filme se trata sobre adolescentes que vão passar férias numa cabana no meio do nada ou se é sobre um objeto macabro, o que sempre importa é de como essa história vai ser contada.

domingo, 3 de agosto de 2014

Desconceituando #2: A Teia da Trama de Enemy

Denis Villeneuve subiu à fama quando lançou Prisoners (Os Suspeitos, 2013), pois antes disso, ele era pouco conhecido. Talvez os mais entusiastas da sétima arte tinham ouvido falar de Incendies (Incêndios, 2010), mas dificilmente o entusiasmo se equiparou ao mesmo entusiasmo do lançamento de Prisoners. Pois bem, algum tempo depois, agora com os holofotes voltados para ele, podemos dizer que Dennis Villeneuve foi um tanto que corajoso ao lançar Enemy, um filme de várias camadas de trama e de uma certa peculiaridade.
Enemy (O Homem Duplicado, no Brasil) tende entre o suspense e o drama. É importante dizer logo de cara que o filme não deixa a trama muito aberta para interpretações; existem interpretações corretas e incorretas do filme. Ou seja, se você acha que o Jake professor de história era irmão gêmeo do Jake ator, ou que se trata de viagem no tempo, ou que as aranhas estavam querendo aniquilar a humanidade e tomar a Terra, pare por aí, não é isso - e eu posso argumentar. Antes de tudo, acho que é valido dizer que esse post está repleto de spoilers, mas é valido também dizer que apesar de revelar a trama, ainda assim o filme vale a experiência.
No começo do filme, é apresentado ao espectador a frase: "O caos é uma ordem ainda indecifrada" retirada do livro O Homem Duplicado, do escritor português José Saramago. Guarde essa frase, voltaremos à ela. Assim sendo, vamos dividir o filme em quatro pontos que considero importante para o completo entendimento:

  • Jake professor de história e o Jake ator são a mesma pessoa.
  • As aranhas representam as mulheres no filme.
  • A trama gira em um padrão que se repete e a história começa quando esse padrão é quebrado.
  • O padrão é quebrado quando Jake (professor) decide assistir o filme que lhe foi recomendado.
A cena inicial estende-se por alguns minutos e se passa em uma casa que mais parece um sexclub. O Jake ator e mais alguns homens observam mulheres nuas e logo após vemos uma aranha em uma bandeja de prata prestes a ser esmagada pelo pé de uma das mulheres. Isso deve-se ao fato de que o Jake ator é viciado em sexo e isso fica claro conforme o filme avança.
Após a cena do sexclub, conhecemos o Jake professor de história e ele está lecionando. Ouvimos ele dizer - Controle. É tudo questão de controle - e então ele diz - E é importante dizer que isso é um padrão e que esse padrão se repete várias vezes através da história -. E faz todo sentido se levarmos em conta que o Jake professor de história e o Jake ator são a mesma pessoa porque o professor e o ator, antes de Jake, o professor, saber que havia uma cópia sua por aí viviam um padrão infinito. Após dizer isso, o professor de história cita Hegel ao proferir - Os grandes acontecimentos do mundo acontecem duas vezes - e então completa citando Marx - A primeira vez é uma tragédia e a segunda vez é uma farsa. 

Depois dessas duas cenas iniciais, vemos que a vida de Jake (professor de história) é realmente um padrão e que esse padrão se repete. Ele acorda, vai trabalhar, volta, transa com a namorada (Mary, Mélanie Laurent), dorme e tudo se repete. Porém, em um desses dias repetitivos, um professor recomenda um filme para Jake (professor) e ele decide assistir. Não é dificil achar pessoas se perguntando se não era um tanto que forçado a recomendação do filme como um empurrão para o desenrolar da trama. Pois bem. Eu discordo. A vida de Jake era um tédio - mesmo que com a Mélanie Laurent -, qualquer coisa que o tirasse da rotina era válido.
Quando assiste ao filme, Jake (professor de história) percebe um ator no longa que é muito parecido com ele. Jake (professor) procura na internet sobre o ator que ele tinha visto e compara a foto do Jake (ator) com uma foto sua (foto essa que está rasgada ao meio de forma que apenas seu rosto aparecesse). Ao comparar a foto, Jake (professor) percebe que o ator não era muito parecido com ele e sim idêntico à ele. A partir de então, ele fica obcecado sobre o ator e parte para assistir todos os filmes dele. Ao procurar uma foto do ator na internet, ele compara uma foto sua que está rasgado ao mesmo (como se fosse uma foto de pós-separação) e como se a mulher que estava ao seu lado tivesse sido removida da foto.
Após realizar mais pesquisas sobre o ator, Jake (professor) consegue um endereço e um telefone em uma carta endereçada ao ator Jake em seu antigo local de trabalho. Jake (professor) liga para o telefone e fala com o ator Jake. Ele tenta convencer o ator a marcar um encontro, mas Jake (ator) não aceita. É nesse momento que conhecemos o ator Jake de vez. Sua mulher (Helen, interpretada por Sarah Gadon) questiona Jake (ator) sobre a ligação com a seguinte frase: Você está vendo ela novamente? - Jake (ator) explode em fúria na mesma hora. Essa parte é fundamental para completo entendimento do filme porque toda a relação criada durante o longa é sobre Jake (ator) ter sido infiel à esposa. A partir daí, ambos Jakes concordam em se encontrar.

Antes que ambos se encontrassem, Helen (esposa do ator Jake) vai à escola onde Jake (professor) trabalha. Ela se emociona ao ver Jake (professor) e o mesmo (ainda sem conhece-la) pergunta se ela está bem. Helen troca algumas palavras com Jake (professor) ainda não acreditando no que está vendo. Quando Jake (professor) se levanta e se despede, Helen pega o celular na mesma hora e disca o número do marido. Essa cena é um dos argumentos que sustenta que Jake (ator) e Jake (professor) são a mesma pessoa. Como? Helen liga para o marido e assim que o mesmo atende, já não vemos mais Jake (professor) em cena. Sendo assim, Helen volta para casa questionando o que viu. Ela parece atormentada e nesse meio tempo Jake (ator) volta para casa supostamente após uma corrida. Ele traz blueberries porque ama essa fruta.


Vemos uma mulher com cabeça de aranha na cena seguinte passar por Jake (ator) e após essa cena, vemos uma mulher vestida sensualmente passar por Jake (professor) no hotel. Ambos Jakes encaram as figuras femininas. Depois, eles se encontram e se comparam. Jake (professor) entrega a carta que pegou no antigo local de trabalho do ator. O ator começa a seguir o professor e mary. Em um ônibus, o ator olha de cima para baixo o corpo de Mary (Mélaine Laurent) e suas feições sugerem que Jake acha Mary muito sensual e tenta conter qualquer e isso indica que ele tem problemas em ser fiel. Após essa cena, vemos Jake (professor) se encontrar com sua mãe. A mãe (interpretada por Isabella Rossellini) critica o filho dizendo: A última coisa que você precisa é ficar se encontrando com homens estranhos em hóteis. Você já não tem problemas o suficiente com uma mulher. Essa última frase vai de acordo com a teoria de que Jake foi e tem problemas em ser fiel à sua mulher. Após isso, a mãe oferece à Jake (professor) algumas blueberries e ele diz que não gosta da fruta. A mãe diz que ele gosta sim. Assim, fica claro que Jake está reprimindo memórias do seu verdadeiro eu afim de escapar de qualquer comprometimento. Depois disso, a mãe comenta sobre o apartamento e o emprego de Jake, elogiando. Isso deve fazer você pensar que seu emprego como ator não foi para lugar nenhum. Assim, temos dois pontos:

  • O professor Jake é o verdadeiro Jake, e o ator é apenas Jake antes do fracasso como ator e durante todos os seus problemas matrimoniais.
  • Helen deixa que Jake (ator) acredite na mentira para que ela possa ajudar na loucura do marido.
Parte para o entendimento sobre Jake ser infiel e estar culpando-se por isso está na cena onde Jake (ator) questiona o professor Jake se ele dormiu com sua mulher. Jake (professor) diz que não, mas Jake (ator) diz que mesmo assim levaria Mary em um encontro e que após isso ambos estariam quites. Pode parecer meio arranjado isso, mas faz sentido. Jake parece agora estar iniciando forçadamente um conflito dentro de mente para que assim, no final, ele ficasse quite consigo mesmo.

O conflito acontece por completo quando Jake (professor) decide ir à casa do ator e encontrar com a mulher. Perceba que ambos Jakes trocaram de mulher um com o outro. Nessa cena, talvez estejamos conhecendo o verdadeiro Jake.
Jake (professor) fala com o lobby boy do condomínio do prédio do ator. O lobby boy leva Jake até o apartamento onde o ator mora e durante o trajeto, ele questiona Jake (professor) sobre o clube. Jake (professor) parece não saber sobre o que o lobby boy está se referindo. Ao entrar no apartamento de Jake (ator), o professor encontra a mesma foto que ele tem em casa, porém, a dele está rasgada. Nessa foto, vemos Jake e sua mulher. A foto está emoldurada e perfeita. Helen chega em casa e o professor Jake age como se fosse o ator. Ele parece nervoso. Durante os próximos minutos, as cenas tendem entre Jake (professor) com Helen e Jake (ator) com Mary. Quando Jake (professor) se deita ao lado de Helen na cama, ela pergunta: Você teve um bom dia na universidade? Isso prova que Helen sabia sobre a loucura do marido.

O conflito termina quando Mary percebe uma marca de anel no dedo do ator Jake. Nesse exato momento, Jake (professor) acorda ao lado de Helen. A partir daí, Jake (ator) e Mary brigam dentro do carro ao voltar para casa e Helen conforta Jake (professor) ao sugerir que ele fique. A briga entre Mary e Jake (ator) fica pior que faz com que Jake se distraia e cometa um horrendo acidente de carro. Assim, Jake encerra o conflito ao eliminar sua parte negativa (o ator, com problemas matrimoniais); o que agrega em sentido à frase de Helen ao pedir que ele permaneça. Ao final do filme, Jake (professor e agora o definitivo Jake) está vestindo um dos ternos do suposto Jake ator quando encontra a carta que ele entregou ao ator quando eles se encontraram da primeira vez. Durante a maior parte do filme vemos essa carta, mas não sabemos o que há dentro. Jake abre a carta e encontra uma chave. Ele encara a chave com tentação. Helen diz que a mãe de Jake ligou e ele pergunta a Helen se eles haviam combinado algo para mais tarde porque ele tinha que ir à um lugar. Esse lugar é definitivamente o sexclub do começo do filme.

Então, acontece a cena final. Ao perguntar sobre algum comprimisso com a esposa naquele dia mais tarde e não obtendo resposta, Jake chama Helen e caminha até o quarto. Quando chega lá, vemos uma aranha assustada e Jake a encara com uma feição de desapontamento e como quem diz "aqui vamos nós, tudo de novo".
As aranhas no filme representam as mulheres e é assim que Jake as enxerga. Todos os seus problemas com relacionamento são reafirmados na cena final. Uma aranha prende sua presa em sua teia, impedindo que a mesma vá à algum lugar até que, por fim, a presa seja devorada. Por vezes, vemos shots da cidade que foram intencionalmente capturados para parecerem com teias de aranhas. Jake se sente preso. Jake não se sente livre. Ele se sente preso à seu casamento e ao fato de que Helen está grávida. Mas por que a aranha se assustou quando Jake chegou ao quarto? No começo do filme, vemos Jake em um sexclub assistindo a uma stripper prestes a esmagar uma aranha. A aranha se assusta porque ela teme em ser esmagada. Jake não consegue controlar seus impulsos e, tristemente, na primeira oportunidade que ele tem de pular a cerca, ele o faz. Já o olhar de desapontamento de Jake ao ver a aranha se assustar se deve ao fato de que ele percebeu que está prestes a reiniciar o padrão e que dificilmente conseguirá impedir que isso aconteça novamente. Como provar? O filme começa com uma ligação da mãe de Jake e termina com Helen dizendo que a mãe dele ligou. Coincidência? Não.

Jake cita no começo do filme: E é importante dizer que isso é um padrão e que esse padrão se repete várias vezes através da história. - Ele se referia a controle. Importante lembrar que ele também diz isso: Os grandes acontecimentos do mundo acontecem duas vezes. A primeira vez é uma tragédia e a segunda vez é uma farsa. Jake percebe que está vivendo uma farsa agora e se desaponta como se não tivesse mais paciência para continuar com isso.
O título foi inteligentemente escolhido, Enemy (inimigo em português) indica que Jake é seu próprio inimigo; tanto que o confronto acontece contra ele mesmo.
Enemy é uma obra-prima baseada no livro O Homem Duplicado, do escritor português José Saramago e já pode ser considerado uma das eficientes adaptações de livro já feitas para o cinema ao nível de Fight Club e Laranja Mecânica, dois filmes que com certeza passarão pelo Desconceituando.

Giftset de Coração Valente Chega ao Brasil - Colecionadores da 7ª

A Fox não decepcionou e depois de trazer a edição comemorativa de 20 anos de Coração Valente para o Reino Unido e para a França, a produtora agora traz um lindo giftset para o Brasil.

O giftset foi anunciado ainda no primeiro semestre desse ano e tem muita gente interessada em adquiri-lo desde então. Sendo assim, abaixo você confere alguns links para garantir o seu o mais rápido que você conseguir porque, convenhamos, não vai durar muito.

O giftset deverá conter a mesma arte da caixa americana e dois discos blu-ray contendo legendas em inglês, português e espanhol e áudio em inglês DTS-HD Master Audio 5.1, português DTS 2.0 e espanhol DTS 4.0. Os extras deverão contar com os seguintes itens:

  • Comentário Em Áudio Do Diretor Mel Gibson
  • O Mundo De William Wallace
  • As Lendas De William Wallace
  • A Jornada De Um Escritor
  • Making Of
  • Entrevistas Com O Elenco
  • Foto Montagem 

 

O giftset está avaliado em uma (concordemos) pechincha de 149,00R$ por toda essa belezura.
Corra e garanta a sua!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Guardians Of The Galaxy (Guardiões da Galáxia) - Review/Crítica


A Marvel talvez ainda não tenha furado a cegueira dos mais arcaicos críticos da sétima arte, mas para quem enxerga bem, sabe que ela colaborou muito nesses seis anos. Guardiões da Galáxia não é um filme multifacetado e nem mesmo livre para interpretações. O filme faz o que sempre propôs: diverte.
O quinteto (quase, hein, Fox?) intergalático funciona apesar de todas as diferenças entre os personagens. Ao contrário d'Os Vingadores em que o filme funciona sob a tensão criada entre o time de vingadores para construir uma harmonia, aqui a tensão entre os personagens até parece a mesma, mas o clima de "parceiragem" é o que uma das novidades. A Marvel já havia arrebatado todos os fãs com piadas, socos, explosões e mulheres e homens sarados, mas o que faltava foi feito apenas em Guardiões da Galáxia; o anti-heroísmo exacerbado.
Os Vingadores, citando como comparação novamente, rebate vários egos dentro da mesma trama - e isso é legal. Mas talvez a única coisa que não tenha sido muito bem resolvida no filme tenha sido a virada entre um time desunido e um time unido. E isso é muito bem feito em Guardiões da Galáxia. Os egos estão lá rebatendo-se como em uma versão intergalática de Avengers (afinal, os Guardiões podem não querer, mas são anti-heróis) e isso ajuda na criação de uma trama divertidíssima (que é outro ponto importante). A Marvel não erra a mão quando o assunto é piada na hora certa; com algumas tiradas meio óbvias, o roteiro consegue puxar uma risada antes mesmo de algo acontecer. A áurea do filme é bem construida e isso se deve ao time. A equipe de anti-heróis cativa porque não tenta impressionar e com isso temos uma trama rasa (que talvez guarde o único escorregão do filme). A falta de diversidade nos planetas incomoda um pouco; por vezes, até achamos que há mais humanos que alienígenas na tela (vide a cena da prisão) e isso se deve à equipe de arte que poderia ter pirado um pouquinho mais e feito alienígenas mais diferentes e imaginativos. A trama não foge do previsto. A união do grupo acontece por uma causa falsa que acaba sendo importante para unir o quinteto, mas o problema é que não tenta passar disso. O filme é suficiente, mas não autossuficiente. Rocket Raccoon é o cerebro e junto à Groot, acaba sendo o alivio cômico de um filme que é cômico all the time.
Quando Groot fala no ápice do filme "Nós Somos Groot" o cinema vem desaba. O universo parece finalmente coeso e os Guardiões nem mesmos sabem da existência d'Os Vingadores. Essa coesão vem da união e cuidado que a Marvel tem com seu universo. Os egos existem, mas no final, nada é tão legal quanto ver tais egos misturados à outros. E isso não só acontece agora com os Guardiões, mas como aconteceu com o Capitão América e a Viúva Negra, Tony Stark/Homem de Ferro, Pepper e o Banner/Hulk, Thor e Loki e resultou em Os Vingadores. Nada é melhor do que ver uma equipe junta. Isso enriquece e sustenta qualquer trama (por mais rasa que ela seja). Prefiro ressaltar esse ponto do que citar James Gunn (diretor e roteirista do filme) pela trama rasa. Na verdade, até o saúdo por ter sido corajoso o suficiente para explicar uma origem em dois minutos e depois (com muito bom gosto) jogar um personagem que quase ninguém conhece. Depois disso, engolimos um vilão que apenas serve de escada para Thanos, mas quando percebemos isso já estamos totalmente nostalgiados e emocionados com o longa.
Ao analisar com mais cuidado, você percebe que não precisaria saber a origem e nem se importar tanto com o vilão. A mãe de Peter Quill morreu, ninguém tem noticiais sobre o pai (até o final do filme) e ele simplesmente é apresentado (já adulto) como um saqueador e caçador de recompensa - referencia óbvia à Indiana Jones. É muita coragem. E aí vem um show de referencias, cultura pop e uma homenagem até que muito bem feita sobre ambas. Fica claro que James Gunn quis mostrar que essa cultura é viva e é capaz de atingir (ou contagiar) qualquer um. E isso Guardiões da Galáxia faz muito bem, - e a Marvel continua fazendo - contagiar.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Que Esperar de Kill Bill: The Whole Bloody Affair


Em meados do final do ano passado, todos os fãs de Quentin Tarantino continham sua alegria após saber que o diretor não lançaria mais o seu mais novo projeto após o roteiro do filme (The Hateful Eight) ter vazado. Mas 2014 pode ser lembrado pelas boas notícias. O diretor voltou atrás e The Hateful Eight vai sair e, meses depois de anunciar isso, o tio Tarantino revela e confirma o lançamento de uma sequência para Kill Bill, intitulada The Whole Bloody Affair. Além de Kill Bill 3, ele falou que está pensando em dirigir um sci-fi, mas isso eu quero comentar em cast. O alvoroço é grande, mas será que já podemos pensar/especular/prever como o filme será? Claro que podemos tentar e claro que esse post estará cheio de spoilers dos outros dois filmes.



O que me conquista no trabalho de Quentin Tarantino é a forma que sua obra consegue ser metalinguística e original mesmo ambas características conflitando por vezes. Quentin Tarantino é o amor por cinema e Kill Bill (ambos volumes) são os filmes que eu mais enxergo isso. A paixão que apenas os cinéfilos entendem distribuídas numa história tão fantasiosa, mas que parece tão verossímil quando vemos. E por quê? Ou melhor, como? Tarantino é esperto. A vingança é uma atitude imaculada em todos nós, o que torna o cruel cinema de Tarantino tão saboroso quanto brincadeira de criança.
Kill Bill: Volume 2 acaba com a noiva e sua filha felizes da vida após a vingança contra Bill. Se você é fã de Tarantino, provavelmente você deve saber de todas as especulações já levantadas antes. A mais sensata é a teoria de que agora não é a noiva quem se vingará de alguém e sim a filha da Copperhead que perdeu a mãe para a vingança da loira. Essa é até que lógica porque, afinal, a noiva foi quem sugeriu isso à garota ainda no Volume 1. Essa é a teoria aceitável e é isso que todos nós esperamos.
Porém, partindo dessa teoria, há a possibilidade de agora a filha da noiva ser a espadachim da vez, mas não gosto muito dessa teoria. Eu prefiro acreditar na primeira (que, concordemos, é a mais coerente e, concordemos novamente que queremos ver Uma Thurman de volta ao papel) e na terceira que citarei agora. Há a possibilidade também da noiva lutar ao lado da filha, ou ela (a noiva) acabar sendo morta pela filha de Copperhead e a filha se vingar. Se Tarantino vai dar essa volta? Acho difícil. Se é justo a filha de Copperhead não conseguir sua vingança? Não me parece justo. Ela parte dos mesmos princípios que a noiva tomou ao se vingar de Bill e seus assassinos. Se Tarantino vai decepcionar? Creio que não. É uma tarefa difícil resolver essa história em um filme, mas provavelmente ele já tem tudo esquematizado.
Como se tudo isso não fosse suficiente, a IG (produtora do anime Ghost In The Shell) e Tarantino pretendem lançar uma versão completa daquela sequencia anime que conta a origem de O-Ren Ishii. A declaração do diretor ao Total Film foi a seguinte:

"What’s going on with that is originally back when Kill Bill was going to be one movie, I wrote an even longer anime sequence,” says Tarantino. “I.G. [the Japanese Anime Studio] who did Ghost In The Shell said we can’t do that and finish it in time for your thing. And you can’t have a thirty-minute piece in your movie.”

“I said okay. It was my favourite part but it was the part you could drop. So we dropped it and then later when I.G. heard we were talking about doing Kill Bill: The Whole Bloody Affair, they still had the script, so without even being commissioned, they just did it and paid for it themselves.”

“It’s really terrific,” he continues. “Anyway, The Weinstein Company and myself were talking about actually coming out with it sometime, not before the year is out, but within the next year with limited theatrical engagement as well.”

"Originalmente, ainda quando Kill Bill ia ser lançado como apenas um filme, eu escrevi uma sequencia maior do anime" diz Tarantino. "I.G. (estúdio japonês de anime) que fizeram Ghost In The Shell disseram que nós não poderíamos fazer aquilo e finalizar à tempo. E você não pode colocar uma sequencia de trinta minutos daquelas no meio do seu filme".

"Eu disse que tudo bem. Era minha parte favorita, mas tive que tirar. Tiramos e então mais tarde, quando a I.G. ficou sabendo que nós estávamos trabalhando em The Whole Bloody Affair, eles ainda se interessavam pelo roteiro do anime. Então, sem consultar ninguém, eles fizeram e pagaram eles mesmos."

"Isso é realmente maravilhoso", ele continua. "De qualquer forma, a Weinstein Company e eu estamos pensando em lançar alguma hora, não antes do ano chegar ao fim, e sim dentro de um orçamento moderado".
 
A data de lançamento para ambos longas não foram citados, apenas foi confirmado para 2015. Porém, temos aí mais um motivo para achar que 2015 vai ser um ano daqueles para o cinema mundial.